Corrupção, o pior dos males governamentais
Foto: Andreia Tarelow
Os governos do PT na Presidência da República, incluindo os três
mandatos de Lula, não têm se notabilizado pela luta contra a corrupção, nem
pela segurança pública.
Nós tivemos o Mensalão, que foi condenado pelo
Ministro Carlos Ayres Britto, quando ainda era presidente do Supremo Tribunal
Federal. Ocorreu também o Petrolão, no governo da presidente Dilma, que o
Ministro Joaquim Barbosa igualmente condenou. Além disso, houve a Lava Jato
que, apesar das confissões dos corruptos e corruptores, teve seus atos
perdoados pelo Supremo, embora saibamos que o crime de corrupção se configurou.
Recentemente, os jornais noticiaram que o
ex-presidente do INSS (nomeado em 2023, no terceiro mandato do governo Lula)
também foi preso por desvios de dinheiro que, evidentemente, prejudicam quem
necessita dos recursos, visto que se trata de uma classe menos favorecida.
A corrupção é o pior que pode existir num país. Foi
este o princípio que sempre procurei ensinar nas aulas que ministrei para
futuros advogados, juízes e magistrados, bem como nos concursos dos quais
participei, examinando candidatos.
Governos corruptos fazem com que o povo não confie
no Estado e no Poder Público. E, o que é pior, sinalizam que o próprio povo
também pode ser corrupto para sobreviver. Dessa forma, reitero minha convicção,
que venho defendendo ao longo de toda a minha vida: a corrupção é o pior mal
que pode existir dentro de um governo e deve ser combatida com toda a força.
A reincidência de grandes escândalos de corrupção,
transversal a diferentes gestões e poderes, impõe um questionamento crucial
sobre a efetividade e a independência das instituições de controle no Brasil. O
ciclo de descoberta de desvios (como o Mensalão, Petrolão e a Lava Jato),
seguido pela anulação de atos judiciais ou a revogação de condenações, sinaliza
uma fragilidade sistêmica que transcende o embate político-partidário. Este
padrão não apenas compromete a confiança pública na administração estatal, mas
também corrói a própria segurança jurídica, essencial para o desenvolvimento
econômico e social.
Ao permitir que grandes casos de corrupção
prescrevam ou sejam revisados por questões formais, sem a devida
responsabilização, o Estado envia uma mensagem perigosa de impunidade
estrutural, que desestimula o serviço público ético e perpetua a cultura de
desvio em vez da moralidade intrínseca que se espera.
A única forma de se poder, realmente, avançar é não
ter corrupção no país. Quando corruptos e corruptores confessam e são
perdoados, ou quando vemos que em todos os mandatos (Lula 1, Lula 2, Dilma 1,
Dilma 2 e Lula 3) houve processos em que a corrupção aparece, isso é muito ruim
para o país. E o apelo que sempre faço àqueles que estão no poder é que lutem
para combater esse mal.
Não é justo que as pessoas que necessitam de
recursos sejam lesadas para beneficiar poderosos que estão no governo. Neste
sentido, os principais jornais do país têm noticiado e criticado em seus
editoriais o que aconteceu no INSS.
Desvios em órgãos como o INSS, que visam o benefício
de indivíduos poderosos, ilustram de forma dolorosa como a busca por lucro
ilícito por parte de agentes estatais detrai recursos essenciais que deveriam
mitigar a pobreza e a desigualdade. Este crime contra o patrimônio público
configura um grave atentado à dignidade humana e ao princípio constitucional da
solidariedade social. A cada centavo desviado de fundos previdenciários, de
saúde ou educação, aumenta-se a distância entre o que o Estado promete e o que
ele entrega, transformando a corrupção em uma das principais barreiras à
construção de uma sociedade mais justa e equitativa e consolida as estruturas
de exclusão e miséria no país.
Entendo, pois, que aquele que deseja seguir a
carreira pública — seja como burocrata, servidor ou político — em primeiro
lugar, deve ter plena consciência do princípio da moralidade que, dentre os
cinco princípios fundamentais do artigo 37 da Constituição Federal é, a meu
ver, o mais importante.
Não se trata de uma moralidade apenas formal, que se
limita a cumprir a lei, mas sim de uma moralidade intrínseca, um sacerdócio de
servir ao povo, de procurar realmente, por ter escolhido o serviço público,
servir ao público e não servir-se dele.
Esta é a tecla que bati a vida inteira e continuarei
afirmando: são 67 anos dedicados à advocacia e 61 como professor universitário.
Embora me sinta muito perto de Deus me chamar, continuarei a dizer, enquanto
Ele me permitir e eu ainda possa expressar algo: a corrupção é o pior mal que
pode existir dentro de um governo e deve ser combatida com toda a força.
Neste sentido, tenho a esperança de que Deus tenha
comigo a condescendência de me fazer como as árvores, que morrem em pé, pois
desejo trabalhar e dizer o que penso, como cidadão, até o último dia da minha
vida.
Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip,
Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e
Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do
Tribunal Region al Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades
Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia),
doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS,
catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho
Superior de Direito da Fecomercio -SP, ex-presidente da Academia Paulista de
Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).
