Neutralidade zero e o conflito político
Presidente
do Sinteac-CZS, Pedro Lima e Prefeito Zequinha Lima
Rapidinhas com UrtigaDoJuruá
outubro 7, 2025
Jornalista
A TESE DA
"NEUTRALIDADE ZERO" E O CONFLITO POLÍTICO
O ponto de partida para analisar um episódio é a premissa de que não existe
neutralidade absoluta no jornalismo. Essa ideia se sustenta no fato de que a
informação é sempre mediada pela escolha editorial, pelo enquadramento da
linguagem e pela experiência humana do jornalista, portanto fatores que,
inevitavelmente, injetam uma perspectiva na notícia.
Eu diria que, a falta de imparcialidade ficou evidente durante a greve dos
servidores da educação. Em um programa local de rádio e TV em Cruzeiro do Sul,
o jornalista utilizou seu espaço para ‘apequenar’ o movimento, demonstrando
claramente seu posicionamento. É importante frisar, de que nós, jornalistas,
temos o direito de expressar opiniões e ideias livremente, mas não estamos
imune a contestação.
Ressaltando que ele defendeu a tese de que os servidores não seriam atores
autônomos, mas estariam sendo usados como "massa de manobra" pelo
Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinteac).
Também, na sua opinião o Sinteac estaria manipulando a greve com o objetivo
real de atingir metas políticas contra a gestão atual, e não de forma orgânica
em defesa dos direitos da categoria.
RESPONSÁBILIDADE CÍVICA E LEGAL
Penso que nesse momento, o papel do jornalismo sério não é ser 'neutro' entre
o sindicato e o prefeito, mas sim defender o interesse público e o que é
estabelecido pela lei. A defesa do piso salarial, nesse contexto, é uma questão
de responsabilidade cívica e legal, e não de escolha política.
“DIFICIL DE ACREDITAR EM UMA GREVE DESSA”
Ele sustentou que a cobertura midiática limitada à greve seria reflexo desse
uso político. A crítica escalou com a acusação de que o Sinteac estaria
insatisfeito com a gestão por ter perdido espaço e influência na indicação da
Secretaria de Educação, segundo ele historicamente ligada à
esquerda.
MANIPULAÇÃO DOS FATOS
O texto, contudo, aponta uma omissão crucial na análise do jornalista, pois o
Sinteac apoiou o atual prefeito, Zequinha Lima, em sua eleição e reeleição, e,
sem dúvida, foi fundamental para a vitória em 2024. Este fato enfraquece a
narrativa de que o sindicato só opera contra o campo político do prefeito.
A ILEGALIDADE NO CASO DO PISO NACIONAL DO MAGISTÉRIO
O ponto central de divergência e de ilegalidade reside no argumento do
jornalista sobre a remuneração dos professores temporários, ao dizer que o
edital de seleção previu um salário menor para os temporários e, portanto, eles
concordaram em receber o valor, pelo menos em tese.
ARGUMENTO FRÁGIL E INCORRETO
O argumento é juridicamente frágil e, na prática, incorreto, pois ignora uma
lei federal específica.
Lei Federal: A Lei nº 11.738/2008
estabelece o Piso Salarial Nacional do Magistério para todos os profissionais
da educação básica da rede pública.
Isonomia Legal: Essa lei não faz distinção entre professores efetivos
(concursados) e professores contratados temporariamente.
Supremacia da Lei: A previsão de um salário abaixo do Piso no edital ou
contrato de um professor do magistério não anula a lei federal. O município é
obrigado a respeitar o valor mínimo estabelecido nacionalmente.
PRINCÍPIO DE LEGALIDADE
Portanto, o não pagamento do Piso Salarial Nacional aos professores
temporários, nesse contexto, configura um descumprimento direto de uma lei
federal e fere o princípio da legalidade que rege a Administração Pública.
DIREITO INCONDICIONAL
O professor temporário tem direito incondicional a receber, no mínimo, o valor
do Piso Nacional. Usar a previsão de um edital abaixo do mínimo legal como
justificativa para o não pagamento expõe a administração pública a ações
judiciais por ilegalidade.
A DEFESA DO TRABALHADOR
Na minha modesta opinião, todo e qualquer movimento paredista que defenda o
trabalhador e a trabalhadora é salutar. É fundamental que o movimento sindical
cumpra seu papel de "tomar as dores" de seus sindicalizados.
Mais importante ainda para a credibilidade e força da categoria é que o
sindicato se mantenha desatrelado da gestão pública (o "patrão").
Essa independência é crucial porque:
Fortalece o Movimento - Um sindicato que não tem compromissos políticos com o
governo pode atuar de forma mais firme e incisiva na defesa dos direitos, sem
medo de retaliação ou de perder "espaço" na máquina administrativa.
Evita Críticas à Moralidade - A autonomia evita a abertura para comentários e
acusações de que o sindicato está sendo usado como "massa de manobra"
ou que suas ações são motivadas por interesses políticos particulares, em vez
das necessidades reais dos trabalhadores.
Em suma, a defesa intransigente dos sindicalizados e a clara separação entre a
representação da categoria e o poder público são essenciais para manter a
legitimidade e o conceito do movimento sindical.