Pressões e chantagens aquecem o “caldeirão político” em Brasília
Por
Chico Araújo*
Visivelmente
abalado, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), abriu uma sessão-relâmpago
na quarta-feira, 6, pregando serenidade, mas sua postura refletiu a tensão dos
bastidores. Pressionado pela oposição, que ocupou o plenário e obstruiu os
trabalhos, Motta só assumiu a Mesa Diretora após ceder e prometer discutir, na
próxima semana, pautas como a defesa das prerrogativas do Congresso, o fim do
foro privilegiado e a anistia, apoiadas por mais de 200 parlamentares. Durante
a sessão, não conseguiu retirar os deputados oposicionistas da área da Mesa,
encerrando-a minutos após o início, em clara demonstração de sua dificuldade em
controlar a Casa.
Nos
últimos dias, Motta enfrentou pressões do governo, que colocou a Polícia
Federal no encalço de seus familiares, acusados de corrupção, e da oposição,
que cobrou o cumprimento de sua promessa de campanha de votar o projeto de
anistia. Acusado de se esquivar do compromisso, Motta também sofreu pressão de
ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Encurralado, ameaçou suspender
mandatos por até seis meses e acionou a Polícia Legislativa para tentar retirar
os parlamentares do plenário, sem sucesso. A oposição, liderada pelo PL (99
deputados), com apoio do União Brasil (59 deputados) e do PP (47 deputados),
soma 205 deputados, força suficiente para influenciar votações. A pressão
desses partidos forçou Motta a recuar, expondo sua fragilidade política. Apesar
do acordo, a oposição não deixou os arredores da Mesa durante seu discurso,
sinalizando que o controle da Casa permanece em disputa.
No
Senado, o presidente Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) enfrenta dilema
semelhante. Senadores da oposição, incluindo Magno Malta (PL-ES),
acorrentaram-se às cadeiras da bancada da Mesa Diretora, impedindo Alcolumbre
de conduzir os trabalhos. Sem saída, ele optou por realizar uma sessão remota.
A principal pauta da oposição é o impeachment do ministro Alexandre de Moraes,
do STF, com 40 dos 81 senadores favoráveis ao processo. Contudo, acordos de
bastidores indicam que Alcolumbre não pautará o impeachment, mesmo que a oposição
alcance a maioria de 41 assinaturas.
A
resistência de Alcolumbre tem motivações corporativistas. Atualmente, 29
senadores respondem a processos no STF, o que pode explicar a cautela de parte
do Senado. Nos últimos dias, ministros do STF realizaram reuniões secretas com
Alcolumbre e senadores governistas para barrar o impeachment de Moraes, diante
da crescente adesão à proposta da oposição. A exemplo de Motta, Alcolumbre também
sofre pressões do governo. Recentemente, a Polícia Federal mirou aliados e
parentes do senador no Amapá, sua base eleitoral. Seu segundo suplente, Breno
Chaves Pinto, foi alvo da Operação Route 156, deflagrada em julho, que
investiga desvios de R$ 60 milhões em contratos do DNIT para manutenção da
BR-156. Alcolumbre nega envolvimento, mas a operação o deixou politicamente
encurralado.
Além
desses dilemas, o Congresso enfrenta pressão popular, que foi às ruas após
Moraes decretar a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), exigindo
o impeachment do ministro do STF. A ebulição política ganhou força com o tarifaço
de 50% imposto pelo governo Trump aos produtos brasileiros, em vigor desde
ontem, 6, intensificando a temperatura em Brasília. A Lei Global Magnitsky,
aplicada contra Moraes em 30 de julho, é um mecanismo dos EUA que impõe sanções
econômicas a indivíduos acusados de graves violações de direitos humanos ou
corrupção, bloqueando bens nos EUA, proibindo transações com cidadãos
americanos e restringindo acesso a serviços financeiros e tecnológicos. Essa
medida, apelidada de "pena de morte financeira", também pode atingir
instituições que negociem com o sancionado, como bancos e operadoras de cartões.
O governo norte-americano cancelou os vistos de sete dos onze ministros do STF,
incluindo Moraes, e estuda aplicar sanções
- que incluiria até a Magnitsky -
a outros políticos brasileiros, como Motta e Alcolumbre, além de
auxiliares do Planalto. Nos bastidores, há informações de que os EUA pretendem
cancelar vistos pessoais de parlamentares brasileiros, permitindo apenas
passaportes diplomáticos em missões oficiais.
Enquanto
isso, o governo Lula, em vez de negociar o tarifaço, como fizeram União
Europeia, Japão, Canadá, China e México, insiste em bravatas, ameaçando
substituir o dólar nas transações comerciais, impor retaliações aos EUA e
proferir críticas ao governo norte-americano. Essas ações, somadas aos
conflitos internos, têm contribuído para o isolamento internacional do Brasil,
agravando a crise diplomática com os EUA, que já classificam as medidas como
uma "guerra comercial" e "interferência" na soberania
brasileira.
*Chico
Araújo é advogado e jornalista. Autor
dos livros Quando Convivi com os Ratos e Sombras do Poder: As Vísceras da
Corrupção no Acre na Operação Ptolomeu. Para exemplares autografados, contate o
autor: WhatsApp (61) 98327-7470