De braços cruzados
Rapidinhas
com UrtigaDoJurua
domingo
12, 2025
Gontran Neto
Jornalista
GREVE EM CRUZEIRO DO SUL: SINTEAC X PREFEITURA
A greve dos servidores temporários em Cruzeiro do Sul expõe um abismo cada vez
maior entre a gestão municipal e os trabalhadores da educação. De um lado, um
sindicato que luta por direitos; do outro, uma administração que parece
preferir a retórica da força ao diálogo.
Embora a greve seja um direito constitucional, a resposta do poder público tem
transformado o debate em um perigoso campo de batalha narrativo, onde a
arrogância e as decisões autoritárias ameaçam sufocar a legitimidade das
reivindicações.
O PODER E SUA ARROGÂNCIA
A recente entrevista do Secretário Municipal de Gestão Estratégica, Orçamento e
Finanças, Matheus Lima, é um sintoma claro de como a arrogância no poder pode
levar a decisões perigosas.
Ao invés de buscar o entendimento, a fala do secretário serviu para inflamar
ainda mais a situação, demonstrando uma desconexão preocupante com os
princípios da negociação e do respeito aos trabalhadores.
Argumentos que buscam contornar a lei do piso salarial e justificar o
injustificável apenas reforçam a percepção de uma gestão que governa com base
na conveniência, e não na legalidade.
É
irônico que, para a atual administração, o cumprimento do piso salarial pareça
ser uma afronta, e o próprio edital revele as manobras para evitar essa
responsabilidade.
SINTEAC: O BODE EXPIATÓRIO DA VEZ
Em uma manobra clássica de inversão de responsabilidades, a gestão municipal
elegeu o Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinteac) como o único culpado
pela paralisação.
Nas palavras de um dos homens fortes do prefeito Zequinha Lima, o sindicato é
"inflexível" e faz "chantagem". Questionar o direito a um
reajuste e condicionar a renovação de contratos ao fim da greve não é apenas
uma tática de pressão, mas uma perigosa distorção dos fatos.
A responsabilidade por uma greve nunca é unilateral; ela nasce da falha do
diálogo, da ausência de propostas e do esgotamento das vias de negociação.
A AMEAÇA EM ALTA DEFINIÇÃO
O ponto mais alarmante da entrevista foi a ameaça, transmitida ao vivo e em
cores, aos servidores temporários.
Ao condicionar a renovação dos contratos ao retorno imediato às salas de aula,
a prefeitura não apenas confunde contratos temporários com emergenciais para
justificar sua posição, mas cruza uma linha ética inaceitável.
A declaração de que "vamos encerrar todos os contratos provisórios e vamos
declarar emergência na educação" não é um ato de gestão, mas um explícito
ato de coação.
Usa-se o poder do Estado para intimidar o trabalhador, esquecendo que a
administração pública deve servir ao cidadão, e não se servir dele para impor
sua vontade.
A FRUSTRAÇÃO QUE SE ACUMULA
Para quem acompanha o desenrolar dos fatos, a desilusão com a atual gestão
municipal se torna cada vez mais palpável. A falta de propostas concretas, as
contradições nos discursos oficiais e a aposta na intimidação como ferramenta
de governo criam um cenário repugnante.
A
greve, por sua natureza, é a reação a uma ação, ou à falta dela. Ao escolher o
confronto em vez do diálogo, a prefeitura de Cruzeiro do Sul alimenta um ciclo
de frustração e resistência que prejudica a todos, especialmente os alunos e a
comunidade. A questão que fica é: até quando a arrogância ditará as regras?