CRÔNICA DE DOMINGO Sol, domingo e eu
5 outubro, 2025
Por Gontran Neto
Talvez eu sinta falta de aproveitar um domingo de sol. Aliás, quem não gosta de se deleitar em um? Lembro-me do quanto fomos cúmplices: o sol e eu, eu e ele. Às vezes, a cumplicidade se estendia e éramos nós, o sol, os amigos e a família, reunidos em algum dos muitos igarapés de água preta e gélida que abençoam esta cidade, um lugar que verdadeiramente sabe desfrutar de suas riquezas naturais sob o céu de domingo.
Como não sentir saudade daqueles momentos? O sol de domingo era o convite perfeito para a casa de campo, o sítio ou a chácara de um amigo. Com o coração apertado, recordo-me de quantos domingos minha churrasqueira, minhas caixas térmicas e eu trabalhamos em perfeita harmonia. O sorriso e a felicidade prevaleciam, embalados por diálogos que jamais ousariam ser monótonos.
O domingo de sol continua lindo, uma bênção para todos. Especialmente para aqueles que nunca deixaram de apreciar a combinação perfeita entre o astro rei, o dia de descanso, os amigos e a boa conversa. Eu, no entanto, já não posso incluir na equação minha churrasqueira e minhas térmicas. Um dia, foram parceiras de aventuras, mas hoje, assim como eu, escondem-se atrás de uma máscara de indiferença, talvez como um mecanismo de defesa para não ter que lidar com as dores e as emoções que insistem em aflorar.
Hoje, o cenário se repete: o sol e o domingo continuam sendo o palco principal para a alegria. Contudo, um dos atores principais desapareceu desta peça. Eu. O sol e o domingo talvez não tenham sentido minha falta. Muitos daqueles, cujas conversas preenchiam o ar, encontraram em outros abraços novas amizades e, com isso, passaram a alegrar outros ambientes.
A máscara da hipocrisia que encobria a verdadeira face da amizade não foi derrubada em um dia de domingo de sol. Mas, foi em um dia útil qualquer que alguns "amigos" me passaram a rasteira, sem o menor respeito pela minha churrasqueira abarrotada de carne e pelas cervejas gelando no balde. Mas foi sob o sol de domingo que eles aplaudiram a minha queda, e em outros domingos, em outros lugares, celebraram a minha derrocada. Hoje, eles continuam a "surfar" na onda dos domingos ensolarados, ao lado de outros, talvez tão imaculados quanto eles se julgam.
O sol de domingo continuará a brilhar, a oportunizar encontros e a ser cenário de comemorações. Aquele cara, no entanto, que apreciava uma cerveja gelada, um cigarro e uma boa prosa, deixou de usufruir dessa dádiva. Trocou o calor do sol pelo brilho da tela e passou a saborear o teclado de um computador, tendo a imaginação como sua mais fiel companheira.
UrtigaDoJuruá