A hegemonia de 20 anos do PT no Acre
Rapidinha
comUrtigaDoJuruá
Setembro 29,
2025
Gontran
Neto
Jornalista
O período entre 1998 e 2018 marcou uma era de domínio político do Partido dos
Trabalhadores (PT) no Acre, com cinco vitórias consecutivas para o governo
estadual. No entanto, uma análise detalhada dos resultados eleitorais revela
nuances importantes, especialmente no que tange ao desempenho dos candidatos
presidenciais do partido no estado, culminando no fim dessa hegemonia na
eleição de 2018.
O INÍCIO DA HEGEMONIA: AS VITÓRIAS EXPRESSIVAS DE JORGE VIANA E BINHO
MARQUES
A trajetória de sucesso do PT no executivo acreano teve início em 1998, com a
eleição de Jorge Viana, que obteve uma vitória expressiva com 57,70% dos
votos.
Viana foi reeleito
em 2002, consolidando a força do partido no estado. A continuidade do projeto
político petista foi assegurada em 2006 com a eleição de Binho Marques, que
também triunfou no primeiro turno com 53,05% dos votos válidos.
Essas vitórias consecutivas e com margens significativas no primeiro turno
solidificaram a percepção de uma força política quase imbatível, sustentada por
um amplo apoio popular.
Durante esse
período, os números nas urnas confirmaram a preferência do eleitorado acreano
pelo projeto político liderado pelo PT.
A RESILIÊNCIA COM TIÃO VIANA E OS SINAIS DE ALERTA NAS ELEIÇÕES
PRESIDENCIAIS
A terceira figura a liderar o estado pelo PT foi Tião Viana. Em 2010, Tião
Viana manteve a tradição de vitórias no primeiro turno, sendo eleito com 50,51%
dos votos.
No entanto, um fato
relevante desse período foi o desempenho da então candidata à presidência pelo
PT, Dilma Rousseff, que foi derrotada no Acre por José Serra (PSDB) tanto no
primeiro quanto no segundo turno (no segundo turno, Dilma obteve 30,33% contra
69,67% de Serra).
Em 2014, a eleição para o governo foi mais acirrada, e Tião Viana garantiu sua
reeleição apenas no segundo turno, com 51,29% dos votos.
Novamente, a
candidata presidencial do partido não obteve a maioria dos votos no estado. No
primeiro turno, Dilma Rousseff ficou em terceiro lugar, atrás de Marina Silva
(PSB) e Aécio Neves (PSDB). No segundo turno, Aécio Neves venceu no Acre com
63,68% dos votos.
Esses resultados indicavam uma crescente dissociação entre o eleitorado local,
que ainda apoiava a liderança do PT no governo do estado, e as suas
preferências na disputa presidencial, sinalizando um desgaste da marca do
partido a nível nacional com reflexos locais.
É importante corrigir a informação de que as vitórias de Lula foram sempre
expressivas no Acre. Em 2002, Lula de fato venceu no estado no primeiro turno
com 46,81% dos votos.
Contudo, em 2006,
Lula foi derrotado no primeiro turno no Acre por Geraldo Alckmin (PSDB),
obtendo 42,62% contra 51,79% do adversário, embora tenha revertido o resultado
no segundo turno.
O FIM DA HEGEMONIA
A partir da reeleição de Tião Viana em 2014, o cenário político no Acre começou
a se transformar de maneira mais acentuada. O desgaste acumulado, somado às
crises política e econômica nacionais que afetaram o PT, preparou o terreno
para o fim de um ciclo de 20 anos.
Nas eleições de 2018, o PT não obteve mais respostas positivas nas urnas no
campo majoritário. O candidato do partido ao governo, Marcus Alexandre, foi
derrotado ainda no primeiro turno por Gladson Cameli (PP), que se elegeu com
53,71% dos votos, enquanto o petista alcançou 34,54%.
A derrota de Jorge
Viana na disputa pelo Senado no mesmo ano simbolizou o encerramento definitivo
do período de hegemonia do Partido dos Trabalhadores no Acre.
UM PASSADO DE CONFIANÇA
Os números demonstram que, no passado, a maioria dos eleitores do Acre
depositou sua confiança no projeto político de Lula. O cenário atual, no
entanto, torna improvável uma retomada do protagonismo petista no estado a
curto prazo.
POPULARIDADE PERMANECE BAIXA
Apesar de um histórico de investimentos federais durante seus mandatos e de
gestos recentes, como o anúncio de R$ 1 bilhão em investimentos e a construção
da ponte em Rodrigues Alves, a popularidade de Lula no Acre permanece
baixa.
Dados do instituto
Paraná Pesquisas indicam que 61% dos eleitores acreanos desaprovam sua gestão
atual, contra 34,9% de aprovação.
AVERSÃO AO PT, A ESQUERDA E A LULA NO ACRE
Essa aversão pode ser explicada, em parte, pelo forte alinhamento do estado a
pautas conservadoras, nas quais o discurso de Jair Bolsonaro encontrou maior
identificação e respaldo popular. Nem mesmo o carisma pessoal de Lula
contribuiu para melhorar sua imagem junto a esse eleitorado.
PRESTÍGIO SEM ENTREGAS
Mesmo sem nenhuma obra de grande impacto ou melhoria realizada diretamente por
sua gestão no Acre, a figura de Jair Bolsonaro consolidou-se como um ídolo para
uma parcela significativa dos acreanos. Esses eleitores se identificam mais com
sua ideologia do que com os benefícios práticos oferecidos por seu adversário.
UM TERRITÓRIO POLITICAMENTE DESAFIADOR
Em resumo, mesmo depois de o PT ter administrado o estado por 20 anos, o Acre
se transformou em um território politicamente desafiador para a esquerda.
A carência não é
apenas de novas lideranças, mas também da necessidade de trabalhar para
amenizar o sentimento de ódio para com o PT e a esquerda, que no Acre parece
ser mais acentuado do que em outros estados.
CENÁRIO PARA 2026
As projeções do Paraná Pesquisas para a eleição presidencial de 2026 reforçam a
dificuldade do PT no estado. Em todos os cenários simulados, Lula é superado
por ampla margem por candidatos do campo da direita, como Jair Bolsonaro,
Michelle Bolsonaro, Flávio Bolsonaro e Tarcísio de Freitas.
Portanto, é desolador para as pretensões do PT, indicando que a reconstrução de
sua influência será um processo longo e árduo. O caminho para a esquerda no
Acre não passa por apontar culpados, mas por uma profunda reavaliação de suas
próprias estratégias e posturas.
É preciso abandonar
a arrogância, reconectar-se com as bases e compreender as razões da ascensão do
conservadorismo, dialogando com um eleitorado que, hoje, se sente mais
representado por outra visão de mundo.