Bolívia enfrenta crise econômica e eleições apontam virada à direita após 20 anos
Sem pão, sem gasolina e sem dólares: o mal-estar na Bolívia a dias das eleições
O próximo domingo, 17, será decisivo para a Bolívia, que vai às urnas em eleições presidenciais marcadas por uma significativa mudança política. Pela primeira vez em 20 anos, candidatos da esquerda não lideram as pesquisas. Entre os favoritos estão o empresário Samuel Medina e o ex-presidente Jorre Quiroga, ambos ligados à direita.
O ex-presidente Evo Morales, do partido de esquerda, não pode concorrer devido a uma decisão judicial que limita o número de mandatos presidenciais a dois.
Crise econômica e falta de recursos
O país enfrenta uma grave crise econômica, resultado de políticas intervencionistas e populistas. A escassez de alimentos, combustíveis e dólares para importações se agravou após o governo do atual presidente, Luiz Arce, exaurir as reservas internacionais para sustentar políticas subsidiadas. A inflação atingiu 25%, a mais alta desde 2008.
Durante seu mandato, Arce importava gasolina, diesel e trigo pagos em dólares e vendia no mercado interno a preços subsidiados. Com o esgotamento da divisa, surgiram longas filas em mercados e postos de combustível em todo o país. Além disso, investimentos em recursos naturais, como lítio, gás e petróleo, não foram priorizados, o que comprometeu a produção e a geração de receita.
No caso do gás, que já fez da Bolívia a segunda maior reserva da América Latina, os lucros da estatização do setor no governo Morales foram direcionados a políticas sociais, sem reinvestimento na produção. A receita da exportação de gás caiu de 6 bilhões de dólares em 2013 para 1,5 bilhão em 2024. Como consequência, 44% da população vive abaixo da linha da pobreza, com dificuldades até para comprar alimentos básicos.
O cenário boliviano reflete uma tendência regional de avanço da direita. Em 2024, a oposição venceu na Venezuela contra o regime de Nicolás Maduro, marcado por fraude eleitoral e crise econômica. Na Argentina, o descontentamento com a administração peronista levou à vitória do ultraliberal Javier Milei. No Chile, pesquisas indicam que o ultradireitista José Antônio Cast lidera a corrida presidencial.
Em 2026, Colômbia e Brasil também vão às urnas, em pleitos que prometem disputa apertada entre esquerda e direita. Analistas destacam que essas tendências não representam defesa de posições políticas, mas sim um reflexo das escolhas dos eleitores diante de crises econômicas e sociais.
Reflexão final
O que se observa na Bolívia e em outros países da região é uma mudança de cenário político impulsionada por crises econômicas, insatisfação popular e busca por novas soluções de governo. Para especialistas, esses resultados evidenciam a necessidade de políticas públicas que equilibrem crescimento econômico, investimentos estratégicos e atendimento às demandas sociais.
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