Impasse tarifário entre Brasil e Estados Unidos: um problema para o Ministério das Relações Exteriores
Neste artigo busco expor minha opinião sobre o
complexo impasse tarifário entre Brasil e Estados Unidos. Enquanto a maioria
dos comentários têm abordado o tema sob um ponto de vista político, quero focar
o assunto em outra perspectiva.
Quase
simultaneamente, Donald Trump decidiu que, a partir de 1º de agosto, o Brasil
pagará uma tarifa de 50% sobre os produtos exportados para aquele país,
enquanto a Argentina terá tarifa zero para suas exportações. Por que essa
diferença?
Acredito
que os motivos sejam diversos, mas destaco alguns: o presidente Javier Milei
não ataca o presidente Trump, seu governo nem os Estados Unidos. Ele conseguiu
organizar as contas de seu país, ao passo que o Brasil apresenta déficits
monumentais, forçando o presidente do Banco Central a manter os juros elevados.
Milei está fazendo a "lição de casa": gasta o que tem e permite que a
sociedade prospere, afinal, não é a burocracia que deve crescer. O resultado é
claro: a Argentina exportará para os Estados Unidos com tarifa zero, enquanto
nós teremos uma tarifa de 50%.
Ocorre
que a Argentina, em grande parte, possui os mesmos produtos de exportação que o
Brasil. Para ilustrar, ambos os países são fortes no setor agropecuário.
Consequentemente, perderemos esse mercado para a Argentina.
Mas por
que tudo isso está acontecendo? Desde o início de seu governo, o presidente
Lula tem atacado os Estados Unidos gratuitamente. Ele se mostra mais amigo de
ditadores como os da Rússia, China, Cuba, Irã e até mesmo da Venezuela. Vale
lembrar que ele enviou o embaixador brasileiro à posse daquele que é considerado
o fraudador das eleições na Venezuela, além de manter uma posição absolutamente
contrária a Israel, apoiando, por decorrência, os grupos terroristas Hamas e
Hezbollah.
Vale
ressaltar que não sou favorável à forma como Israel está agindo em relação ao
povo palestino. Contudo, compreendo que era necessário que se fizesse algo em
função daquele ataque terrorista, no qual mil e trezentas pessoas foram mortas
e cerca de duzentas mantidas reféns.
Além
disso, o presidente brasileiro também tem explicitado publicamente seu apoio ao
Irã. Inclusive, segundo o que circula na imprensa e está sendo investigado,
haveria o envio de urânio para que aquele país, uma ditadura sob a liderança de
seu amigo, possa desenvolver uma bomba atômica. Cedida a terroristas, essa arma
colocaria em risco a paz mundial.
É
preciso ainda lembrar das recentes declarações feitas, após a última reunião do
BRICS, quando o presidente Lula expressou críticas contundentes à política
externa dos Estados Unidos, especialmente em relação a questões comerciais e a
necessidade de uma nova moeda para substituir o Dólar, assim como sua visão
sobre a ordem global. Portanto, são ataques desnecessários direcionados ao
governo Trump e aos Estados Unidos.
Assim,
a impressão que tenho é que os ataques gratuitos do presidente Lula aos Estados
Unidos e sua preferência pelas ditaduras do Irã, da Rússia, da China, de Cuba e
da Venezuela foram o motivo pelo qual o presidente Trump taxou o Brasil,
enquanto Milei conseguiu tarifa zero para a Argentina e, consequentemente,
capturará o mercado brasileiro nos Estados Unidos.
Se o
Brasil tiver seus produtos taxados em 50% a partir de 1º de agosto e essa
decisão não for inteligentemente negociada pelo Ministério de Relações
Exteriores com os Estados Unidos, os mesmos produtos que exportamos serão
exportados pela Argentina. Isso permitirá que ela recupere sua economia, que já
está sem déficit, algo que não acontece com o Brasil. Além de perdermos esse
mercado, enfrentaremos sérios problemas de infraestrutura, matérias-primas e
tecnologia, essenciais para o Brasil, especialmente considerando que o
presidente Lula está prometendo retaliação.
Quero
deixar claro o seguinte: o problema da taxação de 50% aos produtos brasileiros
não foi provocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Foram, sim, as constantes
e desnecessárias críticas do governo brasileiro ao governo Trump, feitas sem
nenhuma contrapartida de benefício, que levaram a essa situação. Iss o
prejudica muito determinados setores da economia brasileira, resultando na
entrega para a Argentina de um mercado que era nosso, representando 12% de toda
a exportação do Brasil.
Essa é
uma questão que demanda profunda reflexão, inclusive por parte do governo e do
Ministério das Relações Exteriores, que precisarão ser muito hábeis para
negociar e, quem sabe, conseguir suspender essa tarifa antes de 1º de agosto.
Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo,
UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do
Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal
Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral
(Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia),
doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das
PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do
Conselho Superior de Direito da Fecomercio -SP, ex-presidente da Acade mia
Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).