A ELEIÇÃO PARA O GOVERNO TENDE A SER MAIS "PROGRAMÁTICA" E A DO SENADO MAIS "PRAGMÁTICA"

 


Edinei Muniz

Circula nos bastidores da política acreana uma tese, por sinal, imperfeita, que tenta vender a ideia de que Jorge Viana teria eleição assegurada para o senado e que o mesmo não teria chances na disputa ao governo, eis que seria derrotado pelo fator antipetismo/bolsonarista.

A referida tese, em que pese a forte aparência de ser a mesma robusta, concreta e infalível, não passa de mera aparência da verdade, já que desconsidera fatores essenciais enraizados na própria natureza dos dois espaços de poder em disputa.

E é exatamente na natureza objetiva de como se processa na mente do eleitor a eleição para o governo e o pleito para o senado, em específico, onde habita a fratura fatal que faz ruir a tese mencionada.

A eleição para o governo, sem desconsideração, claro, dos fatores conjunturais amplos, mas que mesmo assim não possuem forças para anular o forte impacto dos seus efeitos, é um pleito com tendência a ser mais "programático", com grande apelo à memória histórica do que um dia - in concreto - já foi, bem como, obviamente, das projeções e expectativas do que aponta que será.

E é exatamente nesse ponto onde Jorge Viana leva imensa vantagem diante do comparativo com Gladson. Aliás, leva uma vantagem oceânica, sendo real e categoricamente preciso. Ou não?

Tanto é verdade que o apelo programático (nele contido a capacidade propositiva e de gestão, em efetivo) se faz fortemente presente na disputa ao governo é que Sergio Petecão jamais irá decolar no referido pleito, à título de exemplo.

E pq Petecão jamais irá decolar? Pq a memória política histórica do referido suposto candidato não oferta nenhuma segurança programática propositiva e muito menos qualquer centelha de capacidade administrativa para tal.

É fato que Gladson Cameli não se distancia muito de Petecão no referido campo.  Foi eleito em 2018 muito mais na alça do desgaste conjuntural do PT do que propriamente pela oferta dos fatores aqui mencionados no comparativo com Marcus Alexandre. É fato!

Com efeito, é fato também que Gladson não terá à sua disposição em 2022 os mesmos fatores conjunturais que o favoreceram amplamente em 2018.

Não terá por duas razões: os fatores conjunturais são outros. O que era insanidade irresponsável agora é retorno do equilíbrio e da sanidade. E, em segundo lugar, terá agora, em concreto, que se submeter a um comparativo de governo, vetor ignorado quando Gladson foi eleito, como se sabe, em razão dos fatores conjunturais que moveram o eleitorado em 2018.

Em sendo assim, nítido está, em relação à disputa ao governo, que o fator conjuntural antipetismo/bolsonarista não teria forças para retirar a competitividade de Jorge Viana numa eventual disputa ao governo. 

Repetindo: a disputa ao governo tende a ser mais programática e isso favorece  amplamente a Jorge Viana no embate frontal com Gladson Cameli.

De outra banda, o mesmo não ocorre em relação à disputa ao senado. A disputa ao senado é mais "pragmática" e mais danosa ao Jorge.

O que quero dizer com isso? O que digo é que para ser eleito senador no Acre o sujeito não precisa ofertar um programa, um leque de capacidades administrativas e políticas e/ou um bom arcabouço propositivo. O voto neste espaço é bem mais focado na promoção de "efeitos políticos" do que em preocupações com a oferta de resultados por parte dos escolhidos do eleitorado. Como exemplo, citamos novamente o próprio Petecão, eleito e reeleito ao senado sem chegar nem ao menos perto de ofertar tais fatores a seus milhares de eleitores. Ou seja: a disputa ao senado é muito mais violentamente afetada pela ardência conjuntural em sentido amplo do que o pleito ao governo.

Querem outro exemplo? Que tal o exemplo do Marcio Bittar? No caso do Bittar, a imensa maioria, especialmente a margem que o fez cruzar a linha da vitória, votou nele por puro pragmatismo - no ambiente conjuntural posto - para tornar mais robusta a derrota petista em 2018. E nada mais!

Ainda em relação a Petecão, não podemos esquecer que nos dois pleitos em que o mesmo estourou para o senado, no caso, em 2010 e em 2018, sua imagem figurou muito mais como "arma pragmática" para tentar derrotar e/ou enfraquecer o PT do que um projeto político, objetivamente falando. Como isso se chama? Pragmatismo! Em outras palavras: o voto cai menos pensado para o senado e mais focado em alvos políticos! Mais irresponsável e até emocional, eu diria.

E outra: Gladson não tem identidade política antipetista (principalmente na gestão). Tal verdade, e é nítida, encontra-se amplamente demonstrada desde os primeiros dias do seu governo. De igual modo, Gladson também não se mostra claramente identificado como Bolsonarista.

E o que isso significa? Significa que uma eventual disputa entre Jorge Viana e Gladson jamais seria o embate entre um petista contra um antipetista/bolsonarista. Seria uma disputa, por tendência, comparativa programática objetiva, espaço onde Jorge Viana deitaria e rolaria.

E é nessas tendências, programáticas de um lado e pragmáticas do outro, que mora o perigo da tese que diz ter Jorge Viana eleição assegurada para o senado. Não tem! Suas chances para o senado seriam mínimas caso o bloco que elegeu Gladson em 2018 optasse por candidatura única, no caso, com Alan Rick, que é uma espécie de Bolsonarista  apresentável.

Nesse cenário, Jorge seria triturado pelo antipetismo, que, nesse ambiente, encontraria um espaço, digamos, que se mostraria bem menos ardente no caso da disputa ao governo em razão dos fortes - e quase irrecusáveis - méritos do Jorge quando o assunto é governo. Com o devido respeito aos adversários, mas é fato que chega a ser até constrangedor não reconhecer os méritos do Jorge como governador. Tô mentindo? Mas, como senador...

Em síntese: os méritos políticos do Jorge Viana valem muito mais para uma eventual disputa ao governo do que para o senado, onde, conforme já mencionado,  mérito importa bem menos. Sacaram? Ou terei que seguir desenhando?

E mais: caso opte pela disputa ao senado, a capacidade do Jorge Viana de mobilizar a própria base -  frustrada por desejar vê-lo disputando o governo - seria praticamente nenhuma. Claro, claro, nenhuma é exagero meu. Pode até ser, mas que será bem menor e bem menos disposta a defendê-lo, não tenham dúvidas, será.

E pq? Pq Jorge Viana quer ser eleito senador sob o argumento - que já pegou - de que foi o melhor governador. Não dá muito para argumentar. (Risos meus...)

Acorda, Jorge Viana!!!

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