O DIA QUE QUASE FUI ABDUZIDO POR EXTRATERRESTRES NAS FLORESTAS DO SERINGAL CACHOEIRA - Por Edinei Muniz


 

A histĆ³ria narrada abaixo nĆ£o Ć© invencionice minha. Ela realmente aconteceu.

 

Se fantasias existem, deixo assegurado, sĆ£o aquelas decorrentes do nĆ­vel de percepĆ§Ć£o possivel de ser captado e registrado na minha memĆ³ria de menino de nove anos de idade. O resto Ć© tudo verdade!

 

O termo abduzido do tĆ­tulo, aĆ­ sim, jĆ” Ć© exagero meu. NĆ£o  vi naves espaciais, um monte de luzes por todos os lados e muito menos qualquer criatura estranha verde de cabeƧa maior que a minha, que dizem ser grande.

 

O que vi, e disso jamais esquecerei, Ć© que havia uma luz azul, como se fosse uma nĆ©voa, sĆ³ que mais  densa e brilhante, envolvendo meu corpo enquanto flutuava rente Ć  copa das Ć”rvores, disso me lembro muito bem.

 

Eu juro por tudo que Ʃ mais sagrado. Eu flutuava e fui imensamente feliz naqueles instantes mƔgicos. Fui mesmo!

 

Foi assim...

 

Hoje contarei uma histĆ³ria que se passou comigo na infĆ¢ncia, lĆ” pelos nove anos de idade.

 

O fato se deu na “ColocaĆ§Ć£o Paupina”, do famoso "Seringal Cachoeira", em Xapuri.

 

Minha avĆ³ materna, a Dona Linda, - que Deus a tenha em bom lugar - era posseira da Ć”rea e nas fĆ©rias escolares comumente me mandavam para lĆ”. 

 

O lugar era meu perfeito paraƭso Ơ luz do sol e ao mesmo tempo meu mais duro pesadelo quando a noite caƭa e os sons comeƧavam a tumultuar a minha mente das mais horripilantes fantasias.

 

O Seringal Cachoeira sempre teve fama de mal-assombrado. Confesso que muitas histĆ³rias percorriam a minha mente e que tinha verdadeiro pavor de dormir no local.

 

ƀ noite, tinha tanto medo, mas tanto medo, que faltava coragem atĆ© para abrir os olhos e mirar em direĆ§Ć£o Ć  mata com medo de avistar algo estranho a alimentar a covardia noturna da minha mente.

 

O som dos animais noturnos - todos juntos ao mesmo tempo - era um verdadeiro terror. Estou falando sĆ©rio! SĆ³ eu sei o quanto sofria!

 

Certa vez, na lua cheia, lĆ” pela meia noite, levado nĆ£o sei atĆ© hoje por quais forƧas - por coragem minha Ć© que nĆ£o foi - pulei uma das janelas do barracĆ£o e ganhei a mata.

 

Na minha memĆ³ria ainda resta uma firme lembranƧa  de que “flutuava” prĆ³ximo Ć  copa das Ć”rvores e que nĆ£o senti nenhum medo naquele momento. Houve paz e tranquilidade durante grande parte do episĆ³dio. Uma paz Ćŗnica para as noites na Paupina.

 

A sorte Ʃ que meus familiares ficaram acordados atƩ mais tarde da noite naquele dia, posto que estavam fazendo, se bem me lembro, algum tipo de doce na cozinha, acho que de banana. Isso mesmo, era de banana! Sei pq doce de banana Ʃ demorado. Sorte minha!

 

Minha irmĆ£ mais velha, que era quem normalmente dormia comigo na rede, foi a primeira a perceber a ausĆŖncia e aĆ­ comeƧou o desespero.

 

Aos berros, feito uma louca, amarelada pelo pĆ¢nico e tremendo mais que vara verde, a Edileuza, minha irmĆ£ mais velha, que tinha uma espĆ©cie de procuraĆ§Ć£o de luxo dos meus pais para cuidar de mim, anunciou o ocorrido: "Meu maninho sumiu! Meu maninho sumiu! O Nei sumiu! CadĆŖ o Nei?

 

Imediatamente, uma diligĆŖncia foi realizada nas proximidades da casa. Lanterna debaixo do barracĆ£o. Nada! Paiol. Nada! Galinheiro. Nada!

 

AtƩ no igarapƩ foram. E nada de encontrarem o pequeno viajante! O que diabos eu poderia estƔ fazendo no igarapƩ naquela altura da noite? Pescando piabinhas Ơ luz do luar? Cada uma!

 

Antes que pĆ¢nico se instalasse por completo, meu tio Chico, caƧador habilidoso, teve uma feliz ideia: pegou uma blusa, deu para os cachorros cheirarem, e lĆ” foram eles, liderados pelo "JanaĆŗ", o mais apto dos farejadores, em busca do desaparecido.

 

Fui acordado pelo som dos  cĆ£es no meu pĆ© do ouvido. Estava dentro do buraco de um antigo defumador de seringa, abandonado hĆ” mais de 50 anos e que ficava a uma distĆ¢ncia de pelo menos um quilĆ“metro do local de onde parti para o estranho passeio.

 

Dizem que o tal defumador foi utilizado por um seringueiro que teria sido assassinado por bolivianos muitos anos antes.

 

Este mesmo seringueiro, segundo dizem os contadores de histĆ³rias, costumava "aparecer espiritualmente" em busca de alguĆ©m que se habilitasse a pagar - por ele - uma promessa a SĆ£o SebastiĆ£o, pois morrera sem cumprir o dĆ©bito com o santo, motivo pelo qual, de acordo com a lenda, sua alma penava sem conseguir subir para o lugar destinado aos bons cristĆ£os. O cĆ©u, provavelmente!

 

Pois bem, voltando Ć  histĆ³ria, o que atĆ© hoje paira sem explicaĆ§Ć£o Ć© que quando me encontraram eu estava sem "nenhum arranhĆ£o no corpo", mesmo tendo atravessado uma capoeira bastante densa para assim chegar ao local.

 

Ainda hoje, quase 40 anos depois do acontecimento do estranho fenĆ“meno, essa histĆ³ria ainda permanece viva no imaginĆ”rio dos moradores mais antigos do Seringal Cachoeira.

 

Contam eles para os mais novos que fui levado pelo “caboclinho da mata”, o guardiĆ£o dos animais da floresta.

 

Caboclinho da mata, alienĆ­genas ou sonambulismo? NĆ£o sei!

 

O que sei Ć© que naquela estranha noite, pelo menos atĆ© o momento do cachorro "JanaĆŗ" me acordar achando que eu era mais uma das suas tantas pacas, foram de raros momentos de ausĆŖncia de medo nas tantas noites que vivi na colocaĆ§Ć£o Paupina do Seringal Cachoeira.

 

Acho que os alienĆ­genas eram bonzinhos e o caboclinho da mata meu amigĆ£o, sĆ³ pode.

 

Edinei Muniz
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