Morre Gary Prado Salmón, o militar que em outubro de 1967 capturou o guerrilheiro argentino-cubano Ernesto Che Guevara

 


"O Senhor acaba de chamar meu pai de Gral. Div. SP Gary Augusto Prado Salmon. Ele foi acompanhado de sua esposa e filhos. Deixa-nos um legado de amor, honestidade e coragem. Foi uma pessoa extraordinária", comunicou seu filho Gary Prado Araúz nas redes sociais.

Agradeceu também a todas as pessoas que apoiaram a sua família "neste tempo de sua agonia" e finalizou sua mensagem com um "Deus os abençoe".Em declarações à EFE, Prado Araúz assinalou que há meses seu pai teve "uma infecção recorrente, por sua condição de deficiência, (que) complicou-se com pneumonias e depois com (uma) insuficiência renal", mas destacou que "lutou até o final".

A figura do general Gary Prado Salmon transcendeu quando em 8 de outubro 1967 comandou uma patrulha que atravessou a Quebrada del Churo ao sudoeste da Bolívia e que capturou Guevara que estava ferido, para posteriormente entregá-lo a seus superiores.

Um dia depois, o Exército boliviano cumpriu a instrução de executar Che. Em 1981 a vida do militar ficou marcada novamente quando um disparo acidental de um de seus camaradas atingiu sua coluna, o que ocasionou que desde então utilize uma cadeira de rodas para se mobilizar.

"Para ele, a captura do Che não foi a coisa mais importante que fez em sua vida. Para ele, o mais relevante foi contribuir para que as Forças Armadas sejam uma instituição democrática, respeitadora da Constituição e das leis", disse seu filho.

O general Prado foi docente universitário, embaixador e assessor do ex-presidente boliviano Jaime Paz Zamora (1989-1993), entre outras funções que desempenhou.

Prado Araúz destacou que seu pai "conheceu a prisão, o exílio (e) a clandestinidade lutando por seus princípios democráticos", inclusive enfrentou o que considera um "julgamento vergonhoso" quando cumpriu 11 anos de prisão domiciliar por uma acusação de terrorismo durante o governo de Evo Morales (2006-2019).

Ele foi chamado o caso "terrorismo", que deflagrou em 16 de abril de 2009, quando um comando policial realizou uma operação em um hotel de Santa Cruz que se saldou com três estrangeiros mortos e dois detidos, acusados de fazer parte de uma célula terrorista que supostamente pretendia a secessão da região cruzar e atentar contra Morales.

Prado Araúz contou à EFE que seu pai "deixou um livro de memórias inacabado" que lhe falta "o último capítulo" que deveria justamente relatar o que considerou ser um "julgamento injusto" que foi encerrado em 2020 com a absolvição de 12 acusados.

No último tempo, o militar reformado dedicou-se principalmente a escrever e transmitir suas ideias em obras como A guerrilha imolada, onde sustenta a tese de que o Partido Comunista de Cuba "mandou morrer" o Che Guevara à Bolívia porque já não o tolerava.

Gary Prado Salmão "foi um general de uma têmpera extraordinária, nada lhe dobrava, ninguém lhe torcia", finalizou seu filho.

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