Há sete dias morreu
mais um herói. Laurence Huamaní Álvarez, 51 anos, médico, especialista em
oftalmologia, que atuava na linha de frente de combate ao novo coronavírus
(Covid-19) no Juruá. A doença que ele tanto combateu acabou debilitando sua
saúde, deixando complicações que, mesmo após a cura, resultaram em uma trombose
e o levou à morte.
Conhecido por toda a sociedade cruzeirense como uma
pessoa humilde, que não negava ajuda. Nem casa própria tinha. Faleceu sem ter
tido a oportunidade de provar sua inocência perante a Operação Choro de
Hipócrates, da Polícia Federal, que conseguiu na Justiça a indisponibilidade de
bens de todos os médicos da região, alegando ser impossível profissionais de
saúde atuarem por 24, 36 horas ou 48 horas seguidas. Sim, ele era um dos
investigados por ter trabalhado! Há quem diga que a pressão psicológica e a
exposição social do caso possam ter agravado seu estado de saúde.
Morreu, sim, um herói! Claro que, na nossa situação
de saúde, todos os dias tantos outros heróis sofrem para salvar vidas, mas
este, em particular, é um exemplo de pessoa querida, que recebeu homenagens
póstumas até pelo governo do Estado mas, em vida, acabou recriminado pela
gestão e punido, de forma injusta, por salvar pessoas, enquanto seu salário e
bens eram retirados sob a alegação de que estava sendo investigado pela falta
de uma simples informação, que poderia ter sido oferecida pela Secretaria de
Estado de Saúde (Sesacre): os dados de controle de frequência.
Ele, como os outros 53 médicos investigados, chegou
do plantão e foi surpreendido por uma operação policial federal. Homens
armados, levando carros, vasculhando objetos de valor dentro de casa, com
viaturas na frente da sua residência. Uma ação que maculou a imagem e honra
dele, colocando em dúvida seu conceito tão respeitado e admirado por toda a
sociedade. Sofreu, como tantos outros médicos, a pecha de bandido, de corrupto,
morrendo sem ter tido tempo suficiente para provar sua inocência em uma
investigação que pode durar anos.
Depois de analisar o caso, faz crescer a revolta com
o vilão, o governo do Estado, que vem se negando a oferecer informações e a
intervir em um caso de responsabilidade deles próprios, gestores.
Qual o temor desses políticos, afinal? Será preciso
assistir à morte de outros médicos para que as autoridades assumam suas
responsabilidades?
O Sindicato dos Médicos do Acre não se furtará em
defender o trabalhador e responsabilizar o político, pedindo punição aos
gestores e imediata ação nesta Operação inescrupulosa, no sentido de fornecer
as informações solicitadas e, principalmente, admitir publicamente (o que todos
já sabem) que se os médicos do Juruá não fossem capazes de trabalhar –
desumanamente - todas essas horas seguidas, a população não teria atendimento,
já que não há médicos suficientes na região – e isso é, sim,
responsabilidade do Estado.
Guilherme Augusto Pulici*
Presidente do Sindmed-AC em exercício