Por
Edinei Muniz
A
primeira imagem que ilustra a postagem (em preto e branco) é do “Barracão do
Leão”, local onde, segundo diz a legenda da Revista da Semana, edição de 30 de
agosto de 1903, os bolivianos teriam sido atacados e derrotados pelas tropas de
Plácido de Castro em 15 de outubro de 1902, episódio que ficou conhecido no
traçado histórico da Revolução Acreana como a “Segunda Batalha da Volta da
Empresa”.
http://memoria.bn.br/DocReader/025909_01/1977
Não
se sabe ao certo se o Barracão do Leão ficava inserido dentro de um seringal do
mesmo nome. Em meio às acirradas disputas pelas posses das terras naquela
época, era bastante comum os seringais trocarem de nomes, ora sob batismo
boliviano, ora brasileiro.
O
fato é que a região da chamada “Volta da Empresa”, que dizem ser o berço da
cidade de Rio Branco, já chegou a receber a denominação oficial de “Leão”.
A
prova vem de um mapa que consta no livro “The Acre Territory and the Caoutchouc
Region of South-Western Amazonia”, publicado em 1904. Ficava um pouco abaixo do
Riozinho do Rola (o Irariapé ou Irary, na nomenclatura pioneira). No mapa em
questão, curiosamente, o Seringal Empresa não aparece.
https://www.jstor.org/stable/1776006?seq=22#metadata_info_tab_contents
O
referido livro, é bom que se diga, não foi escrito por qualquer pessoa. É de
autoria do magnata americano George Eal Church, figura que, entre 1870 e 1875,
manteve um contrato com a Bolívia cujo objeto era a “colonização” e a
“exploração”, com privilégios exclusivos, da região geográfica onde encontra-se
inserido o Estado do Acre.
Church
foi uma espécie de precursor do Bolivian Syndicate, empreitada que contou,
inclusive, com o apoio do Brasil, que lhe concedeu, também oficialmente, o
direito de construção e exploração da Ferrovia Madeira e Mamoré, tendo a
Inglaterra e a própria Bolívia como parceiros.
Em reforço à tese de existência do “Barracão
do Leão”, ou “Seringal do Leão”, o que é mais provável, consta publicado na
capa do Jornal do Brasil, edição de 07 de janeiro de 1903, um “croqui” da
Batalha da Volta da Empresa onde o Barracão do Leão aparece como sendo o
"Quartel General dos Bolivianos". Constam, ainda, menções expressas
ao mesmo barracão no texto da referida reportagem.
http://memoria.bn.br/DocReader/030015_02/5994
Na
Volta da Empresa, foram travadas duas batalhas. A primeira, ocorrida em 18 de
setembro de 1902, representou a maior derrota das forças lideradas por Plácido
de Castro. Humilhante, sendo mais preciso. A vitória só veio um mês depois,
finalizada em 15 de outubro de 1902. Foi a chamada Segunda Batalha da Volta da
Empresa. Vitória dos acreanos! Se é que o termo acreano cabe no contexto dos
fatos.
Do
ponto de vista estratégico, a vitória de Plácido de Castro na Segunda Batalha
da Volta da Empresa mostrou-se crucial para a vitória final que ocorreria
poucos meses depois em Puerto Alonso.
Até aqui tudo é fato. Mas, como na literatura
não é proibido especular – e seria uma tragédia se fosse – encerro com ela, a
especulação.
Será que a tomada do Barracão do Leão (armas,
suprimentos e tudo mais, que, claro, foram o prenúncio da vitória que viria
logo em seguida) não teria influenciado o garoto Francisco Mangabeira ao
escrever alguns trechos do belíssimo Hino Acreano?
Mas
se o audaz estrangeiro algum dia
“Nossos
brios de novo ofender”
Possuímos
um bem conquistado
Nobremente
com armas na mão
Se
o afrontarem, de cada soldado
“Surgirá
de repente um leão”.
Viagens
à parte, o fato é que, adornando o túmulo de Plácido de Castro, existe um
imenso “leão”.
Será?