Cássio Rizzonuto
Não existe país mais impressionante
no mundo do faz-de-conta do que o Brasil. Quem teve educação doméstica ouvindo
ser errado roubar, mentir, montar esquema para enganar e praticar patifaria, sabe
que deveria ter nascido em qualquer outro lugar do mundo, menos aqui. O que se
prega no Brasil é aplicado exatamente ao contrário.
Quem passou dos 60 anos de idade
cresceu ouvindo a lengalenga de que “Deus é brasileiro” e que somos povo
abençoado porque “aqui não existe racismo” (afora o fato da ausência de intempéries
que castigam diversos povos sem apoio divino como o nosso). No desenrolar
diário, no entanto, a história sempre foi outra.
O ex-secretário nacional de Justiça,
Astério Pereira dos Santos, foi preso na última quinta-feira (5), acusado de
roubar milhões de reais. O filho dele, advogado Danilo Botelho, o sócio do
filho, Pedro Navarro e a advogada Viviane Ferreira Coutinho Alves foram também
presos, acusados de lavagem de dinheiro e outros crimes.
Astério, procurador aposentado, já
tinha visto seu ex-chefe, ex-presidente Michel Temer, ser preso por roubo e
outras acusações. Antes de Michel Temer, outro presidente, Luís Inácio Lula da
Silva, foi acusado de envolvimento em roubos e apontado, inclusive, como
envolvido na estranhíssima morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel.
O antecessor de Lula da Silva, vulgo
FHC (sucessor de Collor, hoje senador), foi apontado como corrupto na acusação
de comprar congressistas para aprovar a emenda da própria reeleição. FHC,
apelidado carinhosamente de “Boca de Tuba”, comprou apartamento milionário em
Paris, pago com euros, cuja origem jamais comprovou.
O que está desmoralizando esquemas de
gatunagem é a internet. Depois das redes sociais e do whatsapp, revelaram-se o
analfabetismo nacional (na manifestação escrita de nossa gente) e a
impossibilidade de se manter escondida a canalhice dos que se arvoram seus
representantes. Uns seguem outros nas crises diárias de sem-vergonhice.
Nas redes sociais está circulando um
vídeo que mostra Rodrigo Maia aceitando o “desafio” de ser candidato à
Presidência da República, em 2018. No vídeo, ele diz que irá combater a “velha
política” e ter certeza de que estará no segundo turno. O que se sabe é que o
“desafio” se esvaiu em fumaça. E que ele foi reeleito presidente da Câmara.
No suposto combate à velha “prática
política”, realizou, no ano de 2019, 250 viagens em jatinhos. Tudo pago pelo
contribuinte. Ele já é chamado de “Fabiano”, mas não por ser socialista. É que
parece morar dentro de jatinhos da FAB. Não há presidente que consiga promover
mudança ou realizar reforma com Câmara assim.
Dia desses, a Rede Globo,
“especializada” em atacar o presidente da República, sustentava discussão a
respeito dos índices de violência. Afirmou que o governo federal precisa tomar
providência. Mas “esqueceu” que o ministro Sérgio Moro (Justiça), enviou pacote
anticrime para a Câmara e lá ele foi todo desfigurado.
O ex-presidenciável Ciro, o Gomes,
confessou que Rodrigo Maia designou o deputado federal Marcelo Freixo
(Psol-RJ), como relator do pacote, para dar o destino que foi dado: a lata do
lixo. O próprio Sérgio Moro, em depoimento na Câmara, disse que o partido de
Freixo é aliado do crime, que defende criminosos.
Tensões são permanentes e contínuas,
não há quem as desfaça. Podem ser adiadas, mas se conservam jacentes. As que
vivemos parecem apertar torniquete de guerra civil. Juntem-se o anunciado
colapso econômico e o coronavírus que a receita estará pronta. O mundo não dá
sossego.