Coordenada pelo GT
Agenda 2030, ação foca na importância das organizações da sociedade civil, que
estão sob forte ataque no Brasil, para a promoção de direitos e para o
desenvolvimento sustentável, a partir do exemplo das mulheres
“A
Lei Maria da Penha só existe hoje porque muitas mulheres lutaram juntas”,
antecipa uma senhora, logo no início do filme. “Nós, mulheres indígenas, só
conseguimos manter as nossas terras porque temos voz”, complementa outra, na
sequência. E às duas se juntam mais representantes da população feminina negra,
quilombola e de lésbicas, bi e transexuais. Ao final, em coro, todas clamam:
“Não calem as nossas vozes!”.
Esta
descrição é referente a partes do filme que é uma das principais peças da
campanha “Não calem nossas vozes”, que será lançada nesta
quarta-feira, 25/09, Dia Global de Ação pelos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS). Ela foi criada pelas agências Abacat Work e
Änimä para o Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda
2030, o GT Agenda 2030, como uma resposta aos recentes ataques às ONGs no
Brasil. O GT reúne mais de 40 organizações, redes e fóruns da sociedade civil
que desde 2014 promovem o desenvolvimento inclusivo e sustentável no país.
A
ideia da campanha é mostrar a importância das ONGs para a promoção de direitos
e para o desenvolvimento sustentável e estimular a população a defender quem
defende seus direitos, pois são elas que amplificam as vozes das pessoas no
processo de formulação e implementação de políticas públicas e, também, na
conquista e manutenção de direitos. No atual governo, esses espaços de
participação popular vêm sendo reduzidos e alguns até eliminados.
No
mês de abril, por exemplo, os colegiados da administração pública federal, como
comissões e conselhos, criados por decreto foram extintos ou tiveram sua
composição modificada. No mês passado, quando o número de queimadas no Brasil
atingiu o maior índice desde 2013 e repercutiu negativamente em todo mundo, o
presidente Jair Bolsonaro acusou as ONGs de estarem por trás dos incêndios criminosos
que atingiam a Amazônia.
“O
Brasil é campeão global de assassinatos de jornalistas e defensores de direitos
e é grande o número de brasileiros e brasileiras com baixa compreensão do papel
da sociedade civil e das agendas que elas defendem. Defensores de Direitos
Humanos, por exemplo, são confundidos com ‘defensores de bandidos’;
defensores/as de reservas indígenas são chamados de ‘vagabundos’ etc. Nossa
campanha, portanto, busca contribuir para desconstruir essa ideia”, justifica
Alessandra Nilo, coordenadora-geral da ONG Gestos, de Pernambuco, e
cofacilitadora do GT Agenda 2030.
Alessandra
considera que o Dia de Ação Global pelos ODS é a data ideal para começar a
levar essa mensagem a mais e mais pessoas, pois os ODS são um conjunto de
tarefas que devem ser completadas até 2030 para a melhoria das condições de
vida da população e do planeta, visando atingir o bem-estar social, econômico e
ambiental no mundo. Este plano é resultado de um acordo firmado em 2015 entre
os 193 Estados-membros das Organizações das Nações Unidas (ONU), entre eles o
Brasil.
Igualdade
– A
campanha “Não calem nossas vozes” reforça a necessidade de
implementação do ODS 16: Paz, Justiça e Instituições Eficazes, e destaca que
sem uma sociedade civil forte o mundo jamais alcançará o desenvolvimento
sustentável. Também foca no ODS 5: Igualdade de Gênero, pois são as mulheres as
mais prejudicadas pelo não cumprimento das metas estabelecidas na Agenda 2030 e
pela retirada ou redução de direitos, principalmente as indígenas, negras, quilombolas,
lésbicas, bi e transexuais. De acordo com a edição 2019 do Relatório Luz da Sociedade Civil, lançada há pouco mais de
um mês pelo GT Agenda 2030, estamos muito distantes do caminho para conseguir a
igualdade.
Segundo
a publicação, os dados referentes à condição de mulheres e meninas seguem
alarmantes: uma entre quatro mulheres sofreu algum tipo de violência em 2018,
sendo que, na maioria dos casos, o perpetrador era conhecido da vítima (76,4%).
Em 2018, o Brasil teve 16.424 notificações de estupro de crianças e
adolescentes menores de 19 anos de idade. Desse total, 86,6% foram de meninas.
Além disso, quase metade (47%) das mulheres trabalhadoras não possui registro
em carteira e um terço (35,5%) não contribui para a Previdência. Para o
relatório foram analisadas as políticas e ações do país para cada um dos 17
ODS.
O
filme da campanha “Não calem nossas vozes” está disponível para TVs
e plataformas digitais. A Rede Globo Nordeste, no Recife, foi a primeira
emissora a acertar, voluntariamente, a veiculação em sua grade. Além dele,
fazem parte do material de divulgação camisetas, lambe-lambes, panfleto digital
e ações em mídias sociais, como corrente da voz e cards que
podem ser usados por todo mundo que quiser aderir à campanha, incluindo peças
animadas. Todo o acervo estará disponível numa landing page
(página de destino), um site mais simples criado com o objetivo de chamar a
atenção do(a) internauta para esta ação específica, no endereço http://www.naocalemnossasvozes.org.br/.