Por
Edinei Muniz
Quando
Manoel Felício Maciel resolveu trocar a aridez do Sertão Cearense para
transformar-se num dos primeiros desbravadores das "tierras non
descobiertas" do Rio Aquiry e Purus, o "mata lá e mata cá" com a
família Araújo, histórico e sangrento conflito familiar envolvendo os Maciéis e
os Araújos, que por décadas abalou a região de Quixeramobim (CE), já havia
recrudecido bastante.
Por
volta de 1877, quando o Coronel Manoel Felício Maciel, fugindo da seca,
embarcou no Navio Fortaleza em direção ao Norte, o tio, Antônio Vicente Mendes
Maciel, o Antônio Conselheiro, ainda não era o "Peregrino". O que
corria à boca miúda em meio aos sertanejos era que este teria assassinado, por
ciúmes, a esposa Brasilina, fato que não restou provado.
Quase
que simultaneamente, impulsionados pelo mesmo flagelo, a seca que abalou o
Sertão a partir de 1877, tio e sobrinho, tomaram caminhos que marcariam suas
vidas.
Antônio
Conselheiro, em meio à multidão de desvalidos que amargava o flagelo da grande
seca, saiu sertão à fora pregando a ética dos desesperados, que culminou com a
fundação do Arraial de Canudos, na Bahia.
O
sobrinho, optou pelo caminho das águas, e no "Seringal Entre Rios",
um feudo de 121 mil hectares, localizado na região de desembocadura do Rio acre
no Purus, instalou um dos maiores impérios da goma elástica do início do século
passado.
Duas
décadas depois daquela que foi a maior estiagem do Sertão Nordestino,
Antônio Conselheiro já era a figura mais querida e idolatrada do Nordeste e
Manoel Felício Maciel um dos mais ricos, temidos e influentes da Amazônia.
Em
1897, vinte anos depois, a trajetória de ambos voltou a registrar algo em
comum: a guerra!
No
caminho de Antônio Conselheiro estava o exército. O problema de Manoel Felício
falava castelhano. Anunciava-se os primeiros movimentos da Revolução Acreana e
também da Revolta de Canudos.
Antônio
Conselheiro fundou o Arraial de Canudos e dele fez seu túmulo. Manoel Felício,
por sua vez, fundou Boca do Acre (antiga Vila Antimary), e tal qual o tio,
cavou, na terra por ele fundada, o próprio túmulo.
Poucos
anos antes, em 1895, foi nomeada uma comissão visando definir os limites
entre Brasil e Bolívia. Estava em curso uma espécie de revisão visando ajustar
o Tratado de Ayacucho, de 1867.
Gregório
Thaumaturgo de Azevedo, uma das autoridades da referida revisão, percebendo que
a Bolívia ficaria com uma região rica em látex e que o Acre estava quase que
totalmente ocupado por brasileiros, denunciou o fato ao governo. Segundo ele, o
Brasil perderia o alto rio Acre, grande parte do Iaco e o Alto Purus.
Depois
disso, em setembro de 1898, a Bolívia, já com a luz vermelha ligada, resolveu
enviar uma expedição ao Alto Acre. Para tal, enviou o Major Benigno Gamarra e
mais umas três dúzias de soldados. O objetivo era fundar uma delegação
boliviana e "tomar de conta da região".
O que
Gamarra não contava era com a astúcia do Coronel Manoel Felício, recém- nomeado
Prefeito de Segurança Pública pelo Governo do Amazonas e, ao menos em tese, com
poderes na região.
A agilidade de Manoel Felício contou com uma ajudinha do General Pando,
que poucos meses antes havia dado com a língua nos dentes após uma parada que
fez no Porto do Seringal Entre-Rios (propriedade de Manoel Felicio), que na
época era uma espécie de parada obrigatória para as embarcações que seguiam
viagem com destino a Manaus e Belém.
O fato é que Pando, ao fazer o "pit stop" no Seringal
Entre-Rios, acabou confessando o plano de ocupação boliviano.
Esperto, Felício ficou de olho. E tão logo soube da passagem dos
bolivianos montou uma expedição com mais de 100 homens e dirigiu-se a
Xapuri.
Lá chegando, botou os bolivianos pra correr, naquela que ficou conhecida
como Primeira insurreição Acreana.
Distante muitas léguas Dalí, um ano antes, após o perecimento de 25 mil
almas, encerrava-se a Revolta de Canudos com a morte do tio Antônio
Conselheiro.
A morte de Manoel Felício já será uma outra história
Segue...
Veja o túmulo dele aqui:
https://youtu.be/6XuHwZ6OpVU
Edinei Muniz