Cássio
Rizzonuto
Os
próximos lances do presidente Jair Bolsonaro, no conturbado cenário político
nacional, irão determinar se o seu governo pretende moralizar, ou apenas fazer
remendos que cubram cabeças e deixem rabos de fora. Reportagem da Revista
Crusoé desta semana faz desenho arrasador da atual situação política
brasileira.
Tudo
começou na decisão do presidente do STF, Dias Toffoli, que manobrou para salvar
o senador Flávio Bolsonaro, ao suspender inquérito aberto a partir do relatório
do Coaf que implicava o filho do presidente. No desdobramento, o episódio
provoca espécie de isolamento do ministro Sérgio Moro (Justiça), afetando suas
decisões.
O
alinhamento do presidente com Dias Toffoli e Gilmar Mendes (este atuando nos
bastidores), faz ressurgir desencanto que mobilizou multidões em defesa de sua
eleição. E fortalece o temor de que Bolsonaro acabe por se tornar refém de
velhos esquemas políticos para cujo combate foi eleito.
Frustra,
ainda mais, porque o governo tem alcançado resultados positivos em curto espaço
de tempo. Os níveis de violência caíram quase 25%, a Petrobras registrou lucrou
de 17 bilhões de reais no último trimestre, o Brasil entrou no OCDE, a reforma
da Previdência foi votada no Congresso, enfim, são inúmeras as conquistas.
Agora,
com relação à corrupção, os últimos acontecimentos são extremamente
desanimadores. A aprovação da lei de “abuso de autoridade” desmonta,
praticamente, a Lava-Jato. Recentes medidas tomadas no âmbito do STF, nas
canetadas do seu presidente, trazem de volta o sentimento de impunidade que é
marca registrada do Brasil.
O
governo Bolsonaro possui dois pilares de sustentação: os ministros Paulo Guedes
(Economia) e Sérgio Moro (Justiça). Este último confere enorme credibilidade à
gestão, especialmente no trabalho que realiza no combate à corrupção. Acontece
que Bolsonaro vem sendo instado por ministros do STF para colocá-lo à margem.
Se
Moro sair, o governo ficará capenga, com uma perna só. Se Guedes cair fora
(depois de Moro), o governo desaba. Daí o que irá ficar? Quem deseja o PT e os
seus esquemas de corrupção de volta? Será que os militares iriam assumir?
Gilmar
Mendes e Dias Toffoli decidiram suspender as investigações da Receita Federal
por terem chegado nos seus calcanhares. A Crusoé revelou que Toffoli recebe cem
mil reais mensais de propina do escritório de advocacia da mulher, Roberta
Rangel. Gilmar Mendes também tem negócios elevadíssimos e suspeitos com a
própria esposa.
O que
fica bem claro é que ministros do STF não podem ser investigados. E que o
presidente Bolsonaro, devido à situação delicada do próprio filho (senador
Flávio), terá de atender reivindicações de corruptos para evitar complicações.
Os
ministros do STF, diz a Crusoé, estão pressionando Bolsonaro para demitir o
presidente do Coaf, Roberto Leonel, espécie de braço direito de Moro no combate
à corrupção pela Operação Lava-Jato. O fato é que a aprovação da lei do abuso
de autoridade e outras medidas começam a reverter expectativas.
Os
que acompanham o desenrolar do imbróglio desejam saber quem irá vencer no
final: os mocinhos ou os bandidos? De um lado, Moro, sua equipe e os que fazem
a Lava-Jato. De outro, STF, Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre e deputados e
senadores envolvidos em falcatruas. No meio de tudo, Bolsonaro, aturdido no
tiroteio, pondo tudo a perder.
Ou
ele veta integralmente a lei bandida, ou o desarranjo iniciado não terá como
ser contido.