Por Edinei Muniz
Sempre fui extremamente curioso em
relação ao sobrenome do meu avô. Sou neto, por parte de mãe, de Severiano Muniz
Farrapo, nascido em 1889, em Tianguá, região noroeste do Estado do Ceará.
Não conheci o vovô Severo. Quando
nasci, em 1974, o mesmo já tinha falecido há mais de trinta anos. O que sei
dele ouvi pela boca da minha avó, a Dona Arlinda Francisca da Conceição, a Dona
Linda, falecida em 2005, com quase 100 anos de idade.
Eis a Vó Linda:
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=1055574027791889&id=100000179045365
Com o advento da internet e da
tendência à digitalização e disponibilização pública dos dados históricos
globais, a busca pelas origens do sobrenome Muniz Farrapo foi aos poucos se
tornando mais fácil.
A primeira grande pista veio em 2010,
através de uma reportagem, intitulada os Farrapos de Olhos Azuis, publicada no
Jornal O Povo, de Fortaleza.
A referida reportagem, dentre outras
coisas, acabou me ofertando duas informações cruciais: o nome do matriarca e a
fonte de informação que o asseguraria como tal.
Dizia a reportagem, que os Muniz
Farrapo descendem de um Português chamado Manuel da Costa Farrapo e que tal
prova estaria no livro do Padre João Mendes Lira, chamado de 'Presença dos
Judeus em Sobral e Circunvizinhanças e a Dinamização da Economia Sobralense em
Função do Capital Judaico' (Editora Companhia Brasileira de Artes Gráficas -
1988).
Tive acesso à referida obra e
confirmei a informação. Os Muniz Farrapo, do meu avô Severiano Muniz Farrapo,
de fato, descendem, no Brasil, do português Manuel da Costa Farrapo.
O pai do meu avô Severiano Muniz
Farrapo, era João Gualberto Muniz, filho de Lauriano Muniz Farrapo, que, por
sua vez, era filho de MANOEL DA COSTA FARRAPO.
Veja a árvore genealógica do meu
trisavô, Lauriano Muniz Farrapo:
https://www.geni.com/people/Lauriano-Muniz-Farrapo/6000000075047371147
Manuel da Costa Farrapo, nasceu em 09
de novembro de 1746, no Arquipélago de Açores, na Ilha de São Miguel, em
Portugal. Era filho de Bartolomeu Gonçalves com Isabel Muniz, ambos portugueses
da mesma região.
Vejam:
http://www.familiascearenses.com.br/index.php/2-uncategorised/29-manoel-da-costa-farrapo
Isabel Muniz, mãe de Manuel da Costa
Farrapo, descende de Manuel Alvarez Pinheiro e Isabel Gonçalves. Manuel Alvarez
Pinheiro era cristão-velho. Mas a minha sexta avó Isabel era cristã-nova.
Ou seja: era Judía convertida ao
Cristianismo à força por meio de um Decreto Imperial.
O termo cristão-novo, ou marrano,
define os Judeus que foram obrigados a negar o Judaísmo em Portugal e Espanha a
partir de 1496. O Decreto Imperial português de 1496 obrigou que os judeus do
país se convertessem ao cristianismo ou seriam condenados à forca.
Com a medida, muitos judeus vieram
para o Nordeste brasileiro. E deixaram descendentes, como é o caso do matriarca
dos Muniz Farrapo, o Manuel da Costa Farrapo.
Agora vamos à prova da perseguição:
um dos filhos da avó do matriarca Manoel da Costa Farrapo foi processado pela
inquisição portuguesa. O nome dele era Henrique Soares.
De acordo com dados obtidos junto ao
Arquivo Nacional de Portugal, o meu ancestral Henrique Soares, um advogado de
61 anos, formado pela Universidade de Coimbra, foi processado pelo Tribunal do
Santo Ofício de Portugal entre 1619 e 1621.
Henrique foi preso em 20/08/1619
acusado de praticar o Judaísmo mesmo após ter sido convertido na marra ao
Cristianismo anos antes.
A sentença, veio por meio do
auto-da-fé de 28/11/1621 - e consistiu no confisco de todos os seus bens,
abjuração em forma, cárcere e hábito penitencial perpétuo sem remissão e degredo
por três anos para as galés. Henrique morreu na prisão.
Veja o processo, diretamente no site
do Arquivo Nacional de Portugal:
https://digitarq.arquivos.pt/details?id=2307967&fbclid=IwAR0nMTUnVUBpRUL3T4TH-tSDi874yruAx0-1JZvES3hZXc_JWfogoA3i_B4
Alguns séculos depois, cinco anos
atrás, visando reparar a perseguição aos Judeus Sefarditas, os governos da
Espanha e de Portugal aprovaram leis de restituição para oferecer cidadania aos
descendentes daqueles que foram expulsos pelas inquisições espanhola e
portuguesa no final do século 15 e início do século 16.
Veja aqui:
https://consuladoportugalsp.org.br/nacionalidade-portuguesa-para-descendentes-de-judeus-sefarditas/
Edinei Muniz é advogado
https://digitarq.arquivos.pt/details?id=2307967&fbclid=IwAR0nMTUnVUBpRUL3T4TH-tSDi874yruAx0-1JZvES3hZXc_JWfogoA3i_B4