Por
Edinei Muniz
A
repórter Lisa Song, da ProPublica, conceituada Agência de Jornalismo
Investigativo, com sede em Nova York, esteve no Acre dias atrás investigando a
Política de Crédito de Carbono e pelo jeito não gostou muito do que viu.
Na
última quinta-feira (23), a repórter, vencedora do Prêmio Pulitzer, um dos mais
respeitados do jornalismo internacional, publicou um artigo no Jornal Los
Angeles Times intitulado 'A Califórnia pode permitir que os poluidores
compensem o carbono preservando as florestas tropicais. Aqui estão as
armadilhas'.
O
trabalho de Lisa no Acre acabou ganhando grande repercussão e vem sendo objeto
de diversas publicações nos principais jornais do mundo.
O
interesse da imprensa internacional é justificável, já que nas próximas semanas
um Comitê Legislativo do Estado da Califórnia (EUA) irá decidir se aprova ou
não o 'Tropical Forest Standard', um projeto desenvolvido pelo Conselho de
Recursos do Ar da Califórnia sobre como as compensações florestais
intercontinentais poderiam funcionar.
O
Acre, na hipótese do projeto ser aprovado, o que é muito provável, irá figurar
como o principal parceiro da Califórnia na referida empreitada, tida como
modelo a ser seguido pelo resto do mundo.
O
negócio funcionaria mais ou menos assim: o Estado da Califórnia, um dos maiores
poluidores das Américas, seguirá poluindo enquanto o Acre, para 'compensar',
conservará a sua floresta em troca de alguns punhados de dólares.
Como
professor de Biologia que sou, tentarei explicar de modo simples essa
relação.
Imagine
que você encontra-se dentro de um quarto cheio de plantas e resolve acender um
cigarro. Ou seja: você estará poluindo o ar do seu quarto lançando nele uma boa
quantidade de CO2, o gás carbônico.
O CO2
ou gás carbônico para nós que somos animais é tóxico. No entanto, para as
plantas funciona como matéria prima da Fotossíntese. O CO2 é tido como o
responsável pelo aquecimento global.
Voltando
ao exemplo do cigarro e das plantinhas...
O que
as plantinhas farão pela qualidade do ar do seu quarto? Elas irão limpar o ar,
já que consomem o CO2 na Fotossintese. Sacaram?
E
qual seria a relação disso tudo com os negócios ambientais envolvendo o Acre e
a Califórnia?
Quem
respondeu que a Califórnia funcionaria como cigarro e o Acre como as heróicas
plantinhas acertou.
Traduzindo:
o Estado da Califórnia, um dos maiores poluidores das Américas, em outras
palavras, um dos maiores emissores de CO2 das Américas, seguirá poluindo por
lá, e nós, os faxineiros dessa sujeira toda, para compensar o estrago
deles ao resto do mundo, preservaremos nossas florestas por aqui - lembrem-se
da aulinha: as plantas "comem" o CO2 tóxico - em troca de alguns
punhados de dólares. O nome disso é CRÉDITO DE CARBONO.
E
nesse suja lá e limpa aqui, a Califórnia, que vive sendo pressionada pela ONU a
cumprir o Acordo Climático, aliviará a própria barra perante a Comunidade
Internacional.
E
nós? E nós? Ora, nós, 'ambientalistas versão agronegócio', seguiremos enganando
pobres e indefesas populações indigenas, cujos gritos mostram-se facilmente
perceptíveis e indicam forte resistência à ideia de servirem de massa de
manobra dos grandes poluidores internacionais - e também do governo
local, já que existem denúncias gravissimas a indicar que os tais punhados de
dólares não estão chegando nas aldeias.